terça-feira, janeiro 31, 2006

Expliquem-me que eu não sei.

Caros Leitores, expliquem-me como se eu fosse muito muito, mas mesmo muito burro(talvez o seja, mas não é isso que está aqui em causa).Eu sou uma pessoa do campo, do interior. Venho duma terra chamada Muxagata, uma freguesia do Concelho de Vila Nova de Foz Côa. Ora, como sabeis vós, pessoas como eu, do campo, somos muito inocentes, um pouco incultas, facilmente manipulaveis(isto partindo dum esteriótipo do que é gente do interior). Lembro-me dos conselhos que o meu paizinho me deu, no momento da minha partida de Muxagata para S. João da Madeira, de modo a alertar-me para os perigos da cidade. Disse-me:"Não confies em ninguem que aquela gente só se preocupa com ela propria e podem usar-te. Na escola faz o que os professores te pedirem, sê educado para as pessoas, tem cuidado com a linguagem que usas que isso pode ser utilizado contra ti, que as pessoas de lá usam termos muitos esquisitos, etc" A principio não liguei muito, achava um absurdo que houvesse tamanha disparidade entre as gentes da cidade e as do campo. Mas não levei muito tempo a aperceber-me que tudo aquilo que o meu pai me disse era verdade. Mas só quero focar o meu tema(pedido de ajuda) num dos conselhos que ele me deu: o da linguagem.No primeiro dia de aulas estava eu à porta da sala 12 do Bloco B, quando vejo um rapaz um ano ou dois mais velho do que eu, calças largas, gluteos bem à vista de toda a gente, uma camisola preta com capucho, uns auscultadores a servir de colar, dirigindo-se a mim com um caminhar que era um misto de trote de cavalo com o andar simio e diz:"yo, dread! Flanqueia-me ai o teu lunch, já!!" E eu pensei que ele queria que eu dançasse qualquer coisa com movimentos de anca, a dança do ventre, por exemplo, e respondi-lhe:"desculpa, mas eu não tenho jeito para dançar e mesmo que soubesse não faria sentido eu dançar aqui no meio só para teu belo prazer." Estranhei mais a reacção dele:"Estás a tangar comigo?!" ,"ah queres que dance um tango contigo, é? Mas é que nem pensar!", "queres que arme já aqui a puta?!" e eu pensei logo:" afinal mas que raio de escola é que eu me vim meter! Têm prostitutas e ainda por cima com armas?!". Fiquei congelado. Não sabia o que dizer ao rapaz e ele a fitar-me com um olhar extremamente ameaçador digno de um King Kong enraivecido. Para minha sorte, a professora entra para a sala na qual eu prontamente me refugio, mas sempre atento aos movimentos do gorila. Na sala começei a matutar(matutar na minha terra quer dizer "pensar") sobre o que se tinha passado. Era tudo muito estranho. "O rapaz só pode ser imigrante e está numa fase de adaptação. Não percebi nada do que ele disse." Nisto, recebo um bilhete, que me foi entregue pelo rapaz que estava sentado atrás de mim e dizia:"Oix. td? eue xoue a Rosah!Bite lah forah a falarex cm u rik. N lhe ligex. ele eh 1 xtupiduh. dpx xe quixerex andarx cm noxcu xtax na boah. jinhus fufinhux!!!". Depois disto a duvida instalou-se "Mas como é que eu vim para a Mirandela?! Não percebo nada do que esta gente diz ou escreve." E lá continuei agarrado às minhas incertezas quanto à verdadeira localização geografica de S. João da Madeira. Se havia alguma coisa que eu percebia e bem (!) era quando me diziam "Dude, tu és estranho pa caralho!" e, com o meu conhecimento basico de inglês, sei perfeitamente que 'dude' quer dizer 'grande amigo'. Mas novamente a duvida instalava-se porque se eles me achavam um 'grande amigo' porque é que nunca me deixavam andar com eles? (a não ser a chata da 'Rosah' que não me largava. Ela e e seu halito a perfume de cachorrinho, pequenino, abandonado, morto e já em estado avançado de putrefação! Acreditem, a Rosa não é flor que se cheire).Meses mais tarde iniciei-me no mundo da internet. Explicaram-me como entrar em salas de conversação. Selecionei uma ao acaso, entrei e apresentei-me:"Olá, sou o José, tenho 17 anos. Gostava de falar com pessoas que sejam boas ouvintes e que estejam disponiveis para debater variados assuntos que vão desde a musica, literatura, e, se me permitem, gostava que falar, mas com todo o devido respeito, sobre sexo. Fico à vossa espera." Imaginem que alguem entra numa sala de conversação e alguem diz as mesmas palavras que eu disse. É normal receber da maior parte dos presentes na sala de conversação, uma especie de codigo, uma linguagem que me era estranha, que apenas variava na quantidade de l's e de o's: muitos disseram "lol", outros "lololol", um "ROTFLOL" aqui e acola, e o mais engraçado de todos, embora sem significado como todos os outros, recebi um "LoloLlOLoOLlOLoolOlOl". Era o que vocês responderiam?Desde que me mudei para a cidade a minha vida está repleta deste tipo de situações. Expressões cujo significado desconheço como" Baixa a bola", "bute lá dar o bazof", "que tripe", "boa onda (a 20 km da praia mais proxima ?!), "que cena buéda roscof", e muitas muitas outras. Talvez se me explicarem esta forma de português arcaico, digo eu, arcaico, mas não me lembro de nenhum verso nos Lusiadas de Camões com este português, talvez eu consiga ter mais amigos, para além do Franscisco, um pobre coitado: surdo-mudo, condenado à cadeira de rodas, com problemas de respiração muito graves. Mas eu, como sou bom amigo, não saio da beira dele.Despeço-me com esperança que me expliquem bem estas duvidas que vos expus. Como é facil de constatar, é um problema que me acompanha há já alguns anos, e, visto que estou a um passo da exclusão social (os medicos dizem que o Francisco não passa deste Inverno), conto convosco para a minha (re)inserção na sociedade.

3 Comments:

At terça-feira, janeiro 31, 2006 10:19:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Às armax e os Barõex AxinaLaduhX
K da oXidenthal pRaya LuXitanah
Por MaRx nC dantX NavegaduX.
Paxaram inDa alEm da TapruBanah (...)
Yoo fat propx Y o c'Ralhuh!!
Mwahahah.. Great one dear friend!

Niz

 
At quarta-feira, fevereiro 01, 2006 2:22:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá. Compreendo perfeitamente o que estás a passar, a mim aconteceu-me o mesmo. Desde que vim da Vila de Cucujães estudar para São João da Madeira a minha vida mudou radicalmente. Também me vi num mundo à parte, a minha sorte foi que encontrei alguém que conseguia compreender, a minha amiga Madalena. Ela veio de Pigeiros no mesmo ano que eu e tivemos a sorte de ficar na mesma turma.
Não sei que conselho te deverei dar ao certo, mas se achares que deves mudar de escola, vem estudar para a Serafim Leite…é lá que estudo =)

PS: Eu e a Madalena somos umas doidas por Sexo ;)

 
At segunda-feira, fevereiro 06, 2006 5:47:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

tá 5 estrelas

Joaquim Raia

 

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