O Emigrante: esse animal

"Ai meu lindo Agosto, são onze meses contigo a sonhar", cantarolou muita vez o nosso Nel Monteiro
e cantarolarão eventualmente milhares, milhões quicá, de emigrantes que por esta altura estão de regresso ao nosso país.
Com calminha por essa estrada um sem número de portugueses desloca-se, por exemplo, da Suíça nos seus carros tunnings todos rebaixados, azeiteiros com jantes de 22", neons e com o motor td assassinado, para a sua humilde terrinha.
Já na sua terra, vão cumprimentar toda a sua família com um terno "Ça va Joãozinho? Tas gráunde, hãã!".
Mais tarde, com o seu fatinho de treino azul e rosa, vai entrar na tasca da sua terra a falar altíssimo como quem diz "cheguei caralho" e encanará cerca de várias canecas de cerveja, até chegar aquela fase deprimente, em que retira o casaco do fato de treino e exibe o seu cabeludo peito por detrás de uma camisola interior rota com um belo fio de ouro por cima...
Aquando da sua migração, na sua terra de exilio, no estrangeiro portanto, o emigrante anda em manada. Caça cervejas indefesas com o seu grupo, quase todo de bigode e ventre avantajado. Por cá, é já um animal mais sociável. Confraterniza com o português nativo, pavoneando-se perante este como se não houvesse amanhã, criticando os hábitos locais, que classifica de rudimentares, ao mesmo tempo que come como um alarve e fala com a boca cheia.
Ao nível da expressão fonética, o emigrante mistura o dialecto nativo com o apreendido aquando da migração para formar um só. Quando fala normalmente usa a mistura de ambos. Em público, por sua vez, prefere utilizar a ligua estrangeira como forma de exibicionismo mudando de imediato para o nativo mais rude se se exaltar! Exemplo: "Marie! Tu vas tomber!!!" quando a filha finalmente cai ele muda para: " Eu não disse que ias caír oh filha da puta!"
Como podem ver, o emigrante é de facto um bixo estranho. Incompreendido por muitos, adorado por outros e explorado por ainda mais enquanto pensa que é o maior... Claro...